por Anderson Silva

A falta de mão de obra qualificada é frequentemente apontada como um dos principais entraves para o crescimento do País nos próximos anos.

Mas engana-se quem pensa que o gargalo está na formação de técnicos ou de profissionais com nível superior.

Sem dúvida, isso é parte do problema, mas a deficiência pode ser encontrada ainda mais embaixo: no ensino básico, onde se formam pessoas que não lidam bem com a matemática ou mesmo com a língua portuguesa.

E esse quadro não deve ser revertido tão cedo. De acordo com uma pesquisa feita pela Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), a dificuldade com matemática provoca um déficit de 30 mil vagas no País. 

Parte desses profissionais que é absorvida pelo mercado de trabalho, no entanto, apresenta dificuldade de raciocínio lógico e matemática.

Para José Roberto Haddad, diretor de Recursos Humanos da empresa de tecnologia BRQ, falta “treinamento” em matemática e raciocínio lógico nos ensinos básico e fundamental. Se o aluno sente dificuldade em matemática, ele tem uma grande tendência a ter dificuldade em aprender lógica de programação, uma deficiência que não é corrigida no ensino superior.

De acordo com Haddad, é o domínio da lógica de programação que faz a diferença e não o conhecimento de uma linguagem de programação. “Se você sabe como analisar logicamente um sistema, o conhecimento da linguagem será facilmente adquirido. Agora, se você não consegue desenhar corretamente a solução do sistema, de nada adiantará saber a linguagem”, exemplifica.

No mercado da tecnologia da informação há atualmente uma carência de profissionais com domínio do raciocínio lógico e isso se deve justamente à falta de “treino” matemático, que o aluno aprende nos primeiros anos de escola. Para tentar identificar esses problemas ainda na fase de seleção de candidatos, Haddad conta que a empresa aplica testes lógicos, comportamentais, técnicos e de inglês.

Português incorreto

Os profissionais que chegam ao mercado de trabalho enfrentam também dificuldade até com a língua portuguesa, a exemplo do que ocorre com os números. Pesquisa elaborada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa mostrou que 38% dos estudantes do ensino superior no País “não dominam habilidades básicas de leitura e escrita”.

O impacto dessa dificuldade com o português será sentido com mais intensidade nos próximos anos, quando esses universitários forem em busca de uma oportunidade de trabalho.

Segundo a professora doutora da Fundação Instituto de Administração (FIA) Íris Gardino, os profissionais chegam às empresas sem conteúdo básico.

O grande problema é que o ensino na escola nem de longe é o ideal. “Lá, ensinam a passar no vestibular, e não o português correto”, diz a professora. Íris afirma também que algumas pessoas acreditam que falar ou usar palavras difíceis em um texto torna o discurso mais interessante, o que na verdade, não passa de mito. O ideal é que a pessoa escreva da forma mais clara e objetiva possível. “Há também um exagero no uso do gerúndio”. A professora dá outra dica importante: ao escrever um texto, leia e releia para saber se as informações estão claras.

“Enquanto o Brasil não investir no ensino básico, a população será sempre ‘devedora’ de mão de obra qualificada para as empresas”, afirma Ana Paula Pagan, gerente executiva da StautRH. No caso das empresas de tecnologia, o maior déficit de profissionais se dá nas áreas de linguagens técnicas específicas, onde é exigido pensamento lógico e numérico.

O problema é tão grave que algumas vezes as empresas precisam dar um reforço de português aos colaboradores para melhorar a comunicação.

Foi o que fez o Instituto Mauá de Tecnologia, uma das principais instituições dedicadas ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica no País, que decidiu ministrar um curso de revisão gramatical e comunicação empresarial para sanar a dificuldade na comunicação entre colaboradores, diretores e pais de alunos.

O curso foi dirigido aos responsáveis pelas áreas como Marketing, Finanças e Serviços, explica Milton Souza, Gerente de Recursos Humanos da instituição. “Verificamos que havia ruídos de informação quando ela era passada para pais de alunos e resolvemos investir nessa qualificação”, diz Souza, que também recebeu aulas.

Segundo o executivo, as aulas eram leves e descontraídas e os exemplos de erros vinham do dia a dia. O resultado, segundo ele, foi satisfatório. “Não só a comunicação com os pais e os alunos melhorou como também o tratamento entre os colaboradores”, conta, acrescentando que a instituição pretende realizar outros cursos e estendê-los aos demais colaboradores. E, futuramente, reforçar as aulas de português também para os alunos, atendendo a uma demanda do mercado.

“O ideal seria que as escolas dessem aulas de redação empresarial para os adolescentes”, sugere Íris Gardino, da FIA. Para Haddad, da BRQ, são necessários investimentos pesados em educação. “Talvez, a partir daí, consigamos gerar o volume de mão de obra que as empresas precisam”, diz.

Fonte: www.canalrh.com.br 

Este post é de 2012 e continua muito atual, infelizmente.

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