publicado em recortes por Lucia Righi
Quando eu era criança, gostava de pensar que temos um destino traçado. Que tudo o que acontecia, cada virada, mesmice ou novidade eram coisas do destino. Como um livro já escrito a ferro e fogo que tinha que acontecer, o meu destino estava escrito nas estrelas.
Eu pensava que o destino era como uma estrada que a gente percorria, sem opção de dobrar a esquina, de voltar ou desistir. Que tínhamos que seguir o nosso trajeto pré-determinado. Ele nos levaria onde deveríamos chegar. Não era preciso ter medo ou receio, o destino sabia o que fazia.
Era até fácil lidar com o destino nos tempos da infância. Afinal, não tínhamos o peso das decisões importantes da vida, que eram tomadas por nossos pais. Só que, o tempo foi passando e a coisa foi ficando difícil. Uma série de escolhas foram surgindo, e eu me pensava: “Meu Deus, a minha escolha é o meu destino”. E isso é muita responsabilidade. Mas se o destino era certo, obviamente que eu faria a melhor escolha. Don´t panic!
E esse pensamento foi amadurecendo na minha cabeça. Sim, a minha escolha é o meu destino. Eu tenho uma escolha. Sou eu, e mais ninguém quem escolhe o destino que quero ter. Ok, superada minha ideia ingênua e infantil do que é o destino, parece óbvio que fazemos escolhas e que somos donos da nossa vida e das nossas decisões. Mas na prática, não é bem assim que percebemos.
A cada dia eu enxergo, não sem certo calafrio, o quanto estamos no comando das nossas vidas. E, a medida que vamos virando adultos (e aos 33 anos, ainda me sinto nesse processo de amadurecimento), isso fica mais claro e mais assustador. Só estamos onde estamos hoje por escolhas e atitudes nossas. Somos os agentes e os culpados das nossas condições atuais, por mais que tentemos culpar o destino, a falta de sorte, a mãe ou o ex-marido. Nosso destino é guiado por nós, e somos absolutamente responsáveis pelo caminho percorrido. Temos total livre-arbítrio em nossas ações diárias, e cada mínimo movimento, pode mudar todo o futuro.
Eu podia ter ido morar no exterior, na cracolândia, no Nordeste, ou ter fugido para as colinas, mas estou aqui. Exatamente onde escolhi estar. Onde o meu destino, que nada mais é do que um apanhado de todas as escolhas que fiz na vida, me trouxe.
Afinal, como vim para aqui?
Segundo a Wikipedia, o destino é geralmente concebido como uma sucessão inevitável de acontecimentos relacionada a uma possível ordem cósmica. Portanto, segundo essa concepção, o destino conduz a vida de acordo com uma ordem natural, da qual nada que existe pode escapar. Seria como uma série de sucessões, coincidências, oportunidades e escolhas jogadas ao acaso e catadas por nós no meio do percurso dos dias.
Sim, dependemos dos outros e das decisões de cada pessoa na nossa volta. Ninguém é uma ilha, não temos o controle total da situação, apesar dos nossos esforços e auto-boicotes contribuírem também nas escolhas alheias. Dependemos das nossas famílias, parceiros e até dos nossos chefes, mas ninguém assume de fato poder sobre nossas vidas, a menos que deixemos. Colocar a responsabilidade na mão dos outros é mais fácil quando nos sentimos miseráveis diante de nossos próprios erros.
A lei do Karma ajusta o efeito a sua causa, ou seja, todo o bem ou mal que tenhamos feito numa vida virá trazer-nos consequências boas ou más para esta vida ou próximas existências. É também conhecida como a famosa “justiça celestial”. Resumindo, ela diz que a decisão inicial nos levará às devidas consequências no final. Ainda assim, houve uma escolha que nos levou àquele fim. Como disse o filósofo alemão Arthur Schopenhauer: “O destino mistura as cartas, nós jogamos”.
É, a vida é muito louca às vezes. Hoje consigo enxergar que na estrada da vida existem bifurcações a cada passo, por onde podemos sair pela tangente, mesmo que a nossa consciência ou suposta obrigação nos convide a ficar. A minha maior descoberta, que mudou minha forma de ver as coisas para sempre, é que sou a única dona das minhas decisões. Não preciso pensar em mais ninguém, se eu não quiser. Sempre vão haver opções.
Sim, é possível fazer a louca, pedir demissão, acabar um relacionamento longo ou ir morar na Austrália. É possível virar a vida de cabeça para baixo hoje (e quem nunca teve alguém que fez isso com a sua de repente, sem permissão?), cortar o cabelo, fazer uma tattoo e sair sendo uma nova pessoa por aí.
Destino não é desculpa. Destiny no good to hide away.
Tudo o que fiz e que me levou onde estou hoje foram as minhas próprias escolhas e motivações. Ninguém é culpado, ninguém tomou as decisões por mim. Ok que a condição financeira influencia, mas só nós mesmos podemos virar o jogo. Até para ganhar na loteria é preciso antes fazer uma aposta.
A partir deste ponto onde estou, inúmeros futuros me aguardam e somente eu posso escolher qual seguir. Posso mudar de país, casar, virar hippie ou seguir aqui, trabalhando em frente a este mesmo computador. É como se existissem milhares de versões de nós mesmos vivendo em realidades paralelas a cada decisão tomada.
Adoro pensar nessa multiplicidade da vida e no quanto estamos vulneráveis a mudar de vida a qualquer tempo, é só ter coragem, ou ao menos vontade. É possível agir e viver a vida que a gente sempre sonhou, e não a que os outros querem viver.
Ainda que Einstein, na sua Teoria da Relatividade, tenha afirmado que o destino está decidido – para ele, a diferença entre passado, presente e futuro é ilusória e, na prática, tudo o que ainda vai acontecer já aconteceu – todo dia vivido, tivemos uma escolha para seguir nosso caminho e construir o que está lá na frente.
Podemos não ter domínio sobre o tempo, sobre as pessoas a nossa volta, sobre o amor ou sobre nosso cabelo num dia de chuva. Muitas coisas estão alheias a nossa vontade, mas as rédeas da nossa vida temos na mão e depende somente de nós mesmos fazer acontecer o que quer que seja. E por isso o destino é algo que me intriga e encanta.
Quem manda no teu destino?
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